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Você Precisa de Um Navy SEAL? 

Atualizado: 14 de jul.



Por Brandon Marcello 

Tradução livre: Sidiclei Souza


Os Navy SEALs - um grupo militar de elite que sacrificam a si mesmos pela liberdade dos Estados Unidos. Sendo bem honesto, acredito que o termo “elite” é um eufemismo grosseiro ao descrevê-los.  Além do mais, o que eles têm feito (seja de conhecimento público ou não) por todos nós nunca poderá ser retribuído. 


Mas, você poderia imaginar a Marinha americana contratando um treinador de basquetebol ou de futebol americano para “treinar” os SEALs? É claro que você não poderia, mas o oposto está acontecendo. Ao longo dos últimos anos tenho ouvido mais e mais vezes que treinadores ou chefes de departamentos esportivos têm levado Navy SEALs para treinar suas respectivas equipes. Não estou falando de apresentações inspiradoras ou de sessões descrevendo a estrutura de comando e a função da comunicação dentro daquela unidade.  Em vez disso, estou falando sobre a contratação deles para realmente conduzir uma equipe por um dia de treinamento físico.


Acho justo dizer que a maioria das pessoas é apaixonada por esse grupo militar (eu sou) - o que eles fazem, como fazem, e o que eles passam para se prepararem para um trabalho desse tipo. Portanto, é lógico que um treinador esportivo aproveitaria a oportunidade de contratar um grupo assim. Então, embora à primeira vista possa parecer uma ótima ideia contratá-los para treinar uma equipe por um dia, eu tendo a pensar o contrário. E acredito que isso na verdade pode prejudicar a equipe.   


Não estou completamente certo de onde veio a ideia de contratar um ex-membro dos Navy SEALs, mas como a maioria das modas do atletismo universitário, alguma equipe provavelmente fez isso; a ESPN ou algum outro meio de comunicação fez uma matéria sobre o treinador que trouxe esse grupo de guerreiros de elite e, antes que você percebesse, todos os outros treinadores do país queriam fazer exatamente a mesma coisa.   


Para justificar a necessidade disso, os treinadores esportivos sempre utilizam termos como “resistência mental, ou “minha equipe precisa saber como é ser levado ao extremo”. Outros talvez digam “meu time é preguiçoso e eles precisam saber como é treinar duro para fazerem uma mudança”; “precisamos nos unir como uma equipe” ou “preciso enviar uma mensagem”.

Agora, não estou discordando das afirmações ou avaliações que esses treinadores fazem de suas equipes. Entretanto, estou discordando da solução que apresentaram para o problema - contratar um militar de elite. Gostaria de reiterar que muitos treinadores buscam essa solução por terem ouvido que outros treinadores recorreram a isso, e, por padrão, eles seguem qualquer uma das “linhas” mencionadas acima para explicar ao seu diretor atlético por que precisam pagar por isso. Eles também utilizarão essas afirmações ao tentar justificar o racional por trás dessa escolha para sua equipe médica de treinadores de desempenho esportivo, que provavelmente se oporá a essa ideia, pois lesões geralmente ocorrem com esse tipo de treinamento.  


O problema fundamental com esse tipo de treinamento é que  estaremos utilizando o treino dos navy SEALs para treinar quem não pertence a essa equipe de elite. Não vejo como essa noção de treinamento possa fazer sentido no esporte universitário, já que em qualquer outro caso, e para qualquer pessoa com o mínimo de bom senso, não seria racional.  



Por que os Navy SEALs treinam do jeito que treinam?  

A resposta é prepará-los para serem SEALs. Deixe-me explicar melhor o treinamento deles. Aqueles que aspiram fazer parte dos SEALs devem suportar 6 meses de um treinamento extenuante chamado Basic  Underwater Demolition/SEAL (ou BUD/S).  Durante esses seis meses, os recrutas participam de 8 semanas de treinamento físico intenso, seguidas de 8 semanas de mergulho (com mais treinamento físico), e 9 semanas de guerra terrestre (com treinamento físico ainda mais intenso). 


Sendo claro, o BUD/S é apenas uma preparação para o treinamento mais formal pelo qual os SEALs passam. Ele é mais um processo de seleção combinado com princípios básicos de treinamento para determinar quem tem “o que é preciso”. 


Embora haja uma série de razões pelas quais este treinamento é estruturado da maneira que é, uma razão primordial é que os instrutores querem “destruir” cada um dos membros da turma a ponto de criar uma sensação de confiança entre eles.   A confiança em seus novos irmãos de armas, que estão lado a lado com eles, é um elemento essencial durante toda essa preparação infernal. Assim, a camaradagem é construída, e uma confiança, de que aqueles nas trincheiras com eles protegerão suas costas, independentemente das circunstâncias. Isso faz todo o sentido, já que esse é o cenário ao qual esses indivíduos podem ser submetidos, e em mais de uma ocasião.   



O que os Navy SEALs sabem sobre treinamento?    

Aparentemente a maioria dos membros dos Navy SEALs não são versados na ciência dos exercícios, planejamento e periodização, ou mesmo na montagem de programas de treinamento. Portanto, treinar atletas não é a área de expertise deles. Por mim tudo bem que eles não tenham um entendimento quanto às ciências esportivas,  pois nem a subsistência deles nem a nossa liberdade dependem deles terem grande domínio desse conhecimento. Entretanto, eles são especialistas em armamento, explosivos, operações clandestinas e em contra-terrorismo. Dito isto, se eu quisesse que alguém da minha equipe aprendesse essas habilidades, ou se nosso sucesso nessa temporada da capacidade dos meus atletas de avançar em uma cabeça de praia ou de garantir um bunker, então com certeza eu os contrataria.   


Em segundo lugar, só porque alguém passou por algo, não o torna qualificado para treinar/ensinar/levar outros a passar por isso. Eu passei por uma apendicectomia uma vez, mas dificilmente estou qualificado para operar alguém. Os Navy SEALs não são preparadores físicos nem treinadores de força. Tenho certeza de que um treinador esportivo não gostaria que um estranho que só praticasse seu esporte viesse treinar seus jogadores por um dia. Por que isso seria diferente? Então, se eu estivesse procurando indivíduos para treinar meu time, seria lógico que eu procurasse os indivíduos mais qualificados para isso.  



Isso é realmente “resistência mental”? 

Uma pergunta melhor seria, essa é a única maneira de atingir a resistência mental? Eu diria que a resistência mental poderia ser aumentada por meio de vários outros métodos que não expõem o atleta a um risco aumentado de lesão.  E se um treinador não estiver satisfeito com a força mental de seus atletas, então talvez ele deva primeiro avaliar seus métodos de recrutamento ou estilo de treinamento. Melhor ainda, contar com uma equipe de apoio para ajudar a remediar a situação, em vez de indivíduos que nunca conheceram os atletas, não conhecem suas personalidades, nem avaliaram sua biomecânica e não têm conhecimento dos históricos de treinamento e lesões de cada jogador. Deixando isso de lado, a questão permanece: um dia de treinamento SEAL é realmente capaz de incutir resistência mental? 

Um dos meus amigos mais próximos é um ex-membro dos Navy SEALs, e ele explicou melhor: “Temos um ditado entre os SEALs… todos querem ser um Frogman (especialista em mergulho dos SEALs) na sexta-feira”. Em outras palavras, qualquer um pode suportar um dia do chamado treinamento SEAL, ou como diz meu amigo, “quando você sabe que esta noite às 18:30 você estará sentado no seu sofá, com os pés para cima e assistindo TV… você pode passar por qualquer coisa”.  Minha opinião sobre tudo isso é que um dia fazendo um treino “tipo” Navy SEAL, não incute uma mentalidade forte como a de um Navy  SEAL.   


Lembre-se, o treinamento introdutório (por falta de uma palavra melhor) dos SEALs leva seis meses para provocar a resposta desejada de resistência mental e coragem. Há um grande número de indivíduos que optam por embarcar no BUD/S, mas muitos não conseguem completá-lo. No entanto, muitos outros têm tanta resistência mental e desejo que conseguem passar pelo processo com ferimentos ou outros problemas médicos, como pneumonia, mas são removidos involuntariamente ou, em alguns casos, são fisicamente retirados para não causarem mais danos a si mesmos. - Não estou me referindo a esses indivíduos. 



E quanto à “união da equipe”? 

O mesmo vale para a união da equipe. A união que ocorre como resultado do BUD/S não acontece em um dia ou uma sessão de treinamento. Ela ocorre ao longo de seis meses. Eu já vi equipes esportivas passarem por esse tipo de treinamento no passado, e adivinha? – Aqueles que você esperaria que cedessem primeiro, cedem. Eles largam o tronco ou o barco e não carregam seu peso. Isso cria união ou verifica ainda mais o fato de que a pessoa que você suspeitava ser a mais fraca é a mais fraca? E se essa pessoa que não faz sua parte no treinamento do Navy SEAL for o melhor jogador da equipe, então o que acontece? Você quer destacar seu melhor jogador por não "seguir firme" em uma sessão de treinamento do Navy SEAL, mesmo que ele ou ela faça mais do que sua parte no campo ou na quadra? 



Aqui está o ponto principal… 

Recentemente, li um artigo sobre lesões na liga principal de beisebol. Em seu artigo, o autor Will Carroll disse: "Existem apenas duas maneiras de vencer no beisebol: coletar talentos e mantê-los em campo". Acho que essa mesma filosofia pode ser aplicada a todos os esportes. Dito isso, expor os atletas a um risco desnecessário de lesão ou aumentar o risco de agravar novamente uma lesão anterior não parece ser o curso de ação mais sensato. Os treinadores precisam colocar suas equipes na melhor posição possível para ter sucesso. Vi equipes participarem desses exercícios de treinamento SEAL e o resultado não foi uma melhor resistência mental, uma maior união da equipe ou os atletas aprenderem a "se esforçarem mais". O resultado foi exaustão - o que coloca os atletas em maior risco de lesão durante a próxima sessão de treinamento. Lesões - novas ou o agravamento de uma lesão anterior causam resultados adversos "indevidos" e frustram a equipe de apoio (treinadores de desempenho e preparadores físicos). Quando o treinador principal não dá ouvidos aos conselhos de sua equipe, ele prejudica sua experiência e diminui seu esforço de treinamento.

Então, se pesarmos o risco versus a recompensa de implementar um dia de treinamento Navy SEAL para uma equipe, eu deduziria que há muito pouca recompensa e muito risco. 


O treinador de longa data e respeitado colega Vern Gambetta acertou em cheio com esta citação: “nenhum treino construirá um atleta, mas pode destruí-lo”. Não poderia concordar mais! 


Mais por vir…



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1 comentário


Barbara Silva
Barbara Silva
14 de jul.

sempre excelentes textos.

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