O Estudo que TODOS os Treinadores Esportivos e Preparadores Físicos Devem Ler e Entender

Por Eric Cressey - Escrito em 24 de abril de 2018.

Original disponível em: https://ericcressey.com/the-study-every-trainer-and-coach-should-read-and-understand

Tradução livre: Bárbara Silva e Sidiclei Souza

Há pouquíssimas verdades absolutas no mundo da saúde e do desempenho humano. A resposta para praticamente toda questão feita nessas áreas é: “talvez”. Mesmo no debate entre observações anedóticas e práticas exclusivamente baseadas em evidências, existem áreas cinzentas que às vezes podem ser fortemente contestadas.

Existe um estudo que acredito que todos os treinadores esportivos, preparadores físicos, especialistas em reabilitação e até os entusiastas do treinamento físico deveriam ler e entender. Meu amigo de longa data, Dr. Stuart McGill - indiscutivelmente a principal autoridade mundial em coluna vertebral - é também um dos principais autores:

Exercise-Based Performance Enhancement and Injury Prevention for Firefighters: Contrasting the Fitness- and Movement-Related Adaptations to Two Training Methodologies (Melhoria do desempenho com base em exercícios e prevenção de lesões para bombeiros: contrastando as adaptações relacionadas ao condicionamento físico e ao movimento em duas metodologias de treinamento). David M Frost 1, Tyson A C Beach, Jack P Callaghan, Stuart M McGill. J Strength Cond Res. 2015 Sep;29(9):2441-59.

Sei o que você está pensando: “O que eu posso aprender com o modo como os bombeiros treinam? As demandas do meu esporte, da minha vida e do meu trabalho são inteiramente diferentes".

Para entender o motivo desse estudo ser tão importante para você e para seu treinamento, precisamos observar os métodos nele utilizados.

Basicamente, os pesquisadores pegaram 52 bombeiros e os dividiram em três grupos:

1. um grupo de condicionamento guiado por movimento (MOV) que recebeu programação e treinamento sobre como se mover corretamente.

2. um grupo de condicionamento convencional (FIT) que receberam apenas o programa, mas não foram acompanhados por um treinador.

3. um grupo controle (CON) que não fez nenhuma intervenção com exercícios.

Antes de depois da intervenção de 12 semanas de treinamento (ou não treino, no grupo controle), todos os bombeiros passaram por séries de testes de condicionamento e de avaliações laboratoriais. Foram observadas coisas como composição corporal, capacidade aeróbica, força de preensão manual, resistência muscular (máximo de push-ups, tempo na prancha), potência dos membros inferiores (salto vertical), e flexibilidade (teste de sentar e alcançar com as pernas estendidas).

De particular importância foi o fato de os pré e pós-testes incluírem “cinco tarefas de corpo inteiro” que NÃO estavam em nenhuma parte da intervenção de treinamento. Esses desafios foram: Box Deadlift, Squat (peso corporal), Lunge, Split-stance 1-arm Cable Press, e Split-stance 1-arm Cable Row. O objetivo era avaliar o quanto o treino teria transferência para criar movimentos mais eficientes e de alta qualidade, seja qual fosse o ambiente de caos que eles passassem na vida (ou, mais especificamente, atuando como bombeiros). Nessas tarefas, os pesquisadores analisaram o movimento da coluna e dos joelhos com marcadores reflexivos para examinar a qualidade do movimento, sob várias condições de baixa e alta velocidade de movimento. Os pesquisadores notaram (a seção em negrito é minha, para dar ênfase):

Os grupos FIT e MOV apresentaram melhoras significativas em todos os aspectos do condicionamento; entretanto, apenas o grupo MOV apresentou melhora no controle de movimento no plano frontal da coluna e do joelho ao realizar cada tarefa de transferência. O grupo FIT apresentou menos controle de movimento no plano frontal, na coluna e no joelho ao agachar, fazer Lunges, empurrar e puxar. Mais participantes do grupo MOV (43%) apresentaram  apenas mudanças positivas pós-treinamento (por exemplo, controle aprimorado), em comparação com o grupo FIT (30%) e CON (23%). Menos mudanças negativas pós-treinamento também foram notadas (19%, 25%, e 36% para os grupos MOV, FIT, e CON, respectivamente). 

Então, o que diabos isso significa para você? A qualidade do treinamento é importante.

Aqueles no grupo que recebeu treinamento de alta qualidade, em média,  moveram-se significativamente melhor, e tiveram substancialmente menos resultados negativos. No grupo que treinou sem a interferência de um treinador, a melhora média foi menor - e houve mais incidentes de adaptações negativas.

Esse é um estudo que prova que ensinar um Single-leg RDL de qualidade terá uma ótima transferência para nossos arremessadores controlarem com segurança a desaceleração do movimento.

Ele demonstrou que a “verdadeira” extensão do quadril, que treinamos na academia, também estará presente (apresentará boa transferência) quando nossos atletas correrem e saltarem.

Ele mostrou que o Lateral Lunge que ensinamos ajuda nossos atletas a mudar de direção de modo seguro nos campos de lacrosse (ou qualquer outro campo).

O estudo demonstrou que a técnica de flexão de quadril do Deadlift que ensinamos tanto na academia, reduz minha probabilidade de machucar as costas quando pego uma criança esperneando.

Isso significa que o fortalecimento do manguito rotador na posição 90/90 e a posição de Timing, que treinamos e ensinamos meticulosamente, protegem nossos atletas quando eles colocam o braço para trás durante a fase de rotação externa do arremesso.

Isso também demonstra que resultados do treino de força e condicionamento de qualidade são devidos a muito mais que ao programa ou mesmo que a um bom ambiente de treinamento; o objetivo é realizar muitas repetições consistentemente de alta qualidade para aumentar significativamente a probabilidade de adaptações favoráveis ​​na qualidade do movimento - ao mesmo tempo que protege contra as desvantagens.

Esse estudo também demonstrou que programas prontos (copia e cola) sempre falham em pacientes com dor nos ombros. Essa abordagem “de tamanho único” - combinada com um coaching desatento - muitas vezes mantém os pacientes no caminho da dor, quando (por outro lado) um pouco de técnica e ajustes de programação podem mudar esse jogo. E, o estudo também mostra por que algumas pessoas saudáveis podem acabar lesionadas quando fazem exatamente o mesmo programa de um amigo que teve sucesso com esse programa. Vemos isso o tempo todo em indivíduos que nos procuram para uma consulta; apenas um pouco de orientação ou ajustes no programa fazem uma enorme diferença em mantê-los assintomáticos e desfrutando do treinamento.

O orgulho que você sente com seu treino - e o orgulho que as pessoas sentem com sua técnica de treinamento - é importante. Nunca se esqueça disso!