Manual Sobre Gerenciamento de Grupos
- Sidiclei Souza
- 20 de mar.
- 10 min de leitura

Por Kevin Carr
Original Disponível em: https://www.strengthcoach.com/resource/65c4ad850a063d31800c74b7
Tradução Livre: Bárbara Silva e Sidiclei Souza
Tão importante quanto a qualidade técnica para um programa de desempenho esportivo de sucesso, a capacidade de gerenciar um grupo de atletas é o que permite ao treinador dar vida às séries e repetições que estão no papel.
Muitas vezes pensamos que a magia do nosso programa de treino está no que escrevemos, mas a magia não está no plano em si, mas em sua execução.
Já vi inúmeros treinadores jovens e ansiosos escreverem o que acreditavam ser o programa perfeito, apenas para quebrarem cara quando se viram diante de um grupo de atletas.
O conjunto de habilidades e a compreensão prática de como executar um plano e de como gerenciar um grupo de atletas é o que separa os treinadores reais dos intelectuais da Internet que nunca precisam treinar de fato pessoas reais.
Como treinadores, temos que programar e treinar considerando a realidade que temos diante de nós na academia e não apenas com a teoria que lemos em um livro ou observamos na internet. Os treinadores têm a responsabilidade de gerenciar personalidades individuais, modificando sua abordagem face às diversas idades de treinamento e lesões e devem fazê-lo dentro das restrições de logística de nossas academias e da distribuição de tempo.
O que espero fornecer a você neste artigo a seguir é uma visão geral do que acredito ser necessário ao gerenciar um grupo de atletas na área de treinamento, e o que discutimos consistentemente com nossos treinadores aqui na MBSC.
Relacionamentos
Em Primeiro Lugar, Aprenda os Nomes
"O nome de uma pessoa é para ela o som mais doce e importante, qualquer que seja a língua."
– Dale Carnegie
Para treinar qualquer grupo, os relacionamentos devem ser estabelecidos primeiro. Na sua forma mais simples, o coaching refere-se a estabelecer consistentemente regras e diretrizes a serem seguidas pelos atletas.
Com isso em mente, é importante lembrar uma coisa que ouvi uma vez da treinadora Jenny Rearick:
“Regras Sem Relacionamento Levam à Rebelião”
Ninguém quer ser treinado por alguém que sente que não tem interesse nele. Sua primeira tarefa no primeiro dia é aprender nomes e desenvolver conexões. Ninguém quer ser chamado de “Ei, você”.
Antes de treinar qualquer atleta na MBSC cujo nome eu não saiba, a primeira coisa que pergunto é “Qual é o seu nome?”.
Esta pergunta simples muda a experiência pessoal do atleta na interação de “um treinador me dizendo o que fazer” para “Um treinador se interessando por mim”.
Anote os nomes se for necessário. Quando comecei na MBSC, lembro-me de manter um caderninho no bolso onde podia anotar os nomes dos jovens e algo que os distinguisse.
“João, Alto, Tênis Azul”
“Kelly, Hóquei de Campo, de Woburn”
Etc, etc.
Seu objetivo deve ser aprender o nome de todos os seus atletas no primeiro dia. Depois de ter os nomes, você pode desenvolver relacionamentos e começar realmente a treinar.
Baldes
"A vida de toda criança é um misto de merda e sorvete. Se a criança já teve muita merda, misturo um pouco de sorvete. Se ela já teve muito sorvete, misturo um pouco de merda.”
~ Tom Martinez
Depois de fixarmos os nomes e continuarmos a desenvolver conexões com nossos atletas, devemos começar a colocá-los em baldes metafóricos. Dentro do seu grupo, você terá personalidades totalmente diferentes para enfrentar.
O Esforçado, O Palhaço, O Distraído, O Líder, O Envergonhado etc. A maneira como você treina um indivíduo varia muito com base na personalidade dele.
Algumas crianças precisam ser empurradas (O Enganador)
Algumas crianças precisam ser desaceleradas (O Esforçado)
Algumas crianças precisam ser capacitadas (O Distraído)
Algumas crianças precisam de grades de proteção e disciplina (O Palhaço)
E algumas crianças não precisam de muito (O Líder)
Comece a descobrir onde cada criança se encaixa e entenda como mudar sua comunicação e treinamento para cada interação individual dentro do grupo. Como diz a citação de Tom Martinez no topo desta seção: “Cada criança precisa de uma mistura diferente de merda e sorvete”
Logística do Programa
“Um programa decente, executado perfeitamente é mais valioso que um programa perfeito mal executado”.
– Michael Boyle
Não Morda Mais do que Você Pode Mastigar
Por mais que este artigo deva ser sobre coaching e não sobre programação, às vezes o programa errado pode levá-lo ao fracasso. Muitas vezes, a logística do programa pode tornar-se o fator determinante para o sucesso ou para o fracasso de uma sessão de treino.
Ao escrever um programa, observe atentamente a idade de treinamento do seu grupo, o tamanho da academia, a disponibilidade de equipamentos e suas habilidades como treinador e pergunte-se:
“Eu realmente consigo efetivamente conduzir esse treino?”
Não deixe que sua programação se estenda além da logística de sua academia, da capacidade do seu atleta ou de sua perspicácia como treinador. Você sempre pode tornar um programa mais complexo e difícil à medida que progride.
Nossos programas da fase 1 costumam ser incrivelmente simples, pois permitem aos nossos atletas a oportunidade de aprender os movimentos e aos nossos treinadores tempo para avaliar como o programa está funcionando e fazer ajustes, caso necessário.
Analise fisicamente seu programa antes do treino e pergunte-se:
Tenho espaço para um número X de atletas fazer isso?
Tenho equipamento para um número X de atletas fazer isso?
Tenho treinadores suficientes para ensinar este exercício adequadamente?
Serei capaz de encaixar tudo isso no tempo previsto?
Se você observar possíveis desafios na logística de suas instalações ou no treinamento da população, opte pela cautela. O melhor treinador não consegue sair de um programa que o leva ao fracasso.
Linhas, Não Círculos
Uma coisa simples, do ponto de vista organizacional, para o trabalho com grupos, que tentamos insistir na MBSC é organizar seus grupos em filas e não em círculos.
Criar filas e colunas de atletas permite que você mantenha todos à sua vista o tempo todo. Sem exceção, quando alguém está fora de sua linha de visão, ele cometerá erros, desperdiçará seu esforço ou, no caso dos mais jovens, fará besteira.
Organizar seus atletas de uma forma que os mantenha sob sua visão e, ainda mais importante, permita que você faça contato visual, torna seu treinamento mais eficaz.
Coaching
Equilíbrio Entre Ser Autoritário e Participativo
Em seu livro, “Inside Out Coaching”, Joe Ehhrrman fala sobre a Liderança Transformacional sendo um equilíbrio entre a Liderança Autoritária e a Participativa.

A liderança autoritária é um estilo que reflete o treinador de futebol americano tradicional; o ditador autoritário com uma abordagem “do meu jeito ou rua”. O líder participativo é o melhor amigo do atleta, aquele que ouve mais do que fala e frequentemente cede aos desejos do atleta.
Um grande treinador pode equilibrar perfeitamente os dois extremos do espectro para criar um ambiente de aprendizagem que seja produtivo e positivo. Para cada grupo e cada atleta o seu equilíbrio entre os dois extremos do espectro será diferente e ao longo do seu relacionamento com determinado grupo seu equilíbrio também mudará.

Minha recomendação, especialmente ao trabalhar com jovens, é começar de forma mais autoritária e, lentamente, tornar-se mais participativo à medida que avança.
No início da relação de treinamento, seja claro quanto às expectativas e diretrizes comportamentais para estabelecer a relação entre treinador e atleta. Deixar de estabelecer precocemente a hierarquia treinador-atleta pode muitas vezes dificultar o treinamento eficaz de um grupo e quase sempre leva a uma compensação excessiva do autoritarismo mais tarde, em um esforço para voltar ao caminho certo.
Seja Específico Na Sua Comunicação
Isso pode parecer muito detalhista, mas nas fases iniciais da gestão de um grupo e do fornecimento de instruções, acho que é extremamente importante ser específico em suas instruções.
Seja específico quanto suas “esquerdas e direitas”. Isso torna mais fácil instruir, mas também prepara o atleta para ouvir com atenção e seguir instruções específicas.

Exemplo:
“Todos cruzem a perna esquerda sobre a direita e usem o rolinho no glúteo esquerdo”.
“Quero que todos estendam o braço esquerdo enquanto estão apoiados na perna direita”
Quando você dá instruções específicas no início do processo de treinamento, tem mais oportunidades para corrigir erros, ajudando os atletas a aprenderem com mais eficiência, ao mesmo tempo que reduz a confusão e os treina para ouvir com mais atenção.
Peça Confirmação
Não há nada que deixe um treinador mais louco do que ter que lembrar repetidamente aos jovens quantas séries e repetições elas estão fazendo, apesar de ter explicado isso a elas há menos de um minuto.
Para melhorar a capacidade de ouvir do seu atleta (e evitar que você perca a cabeça), algo que faço consistentemente depois de explicar a prescrição aos meus atletas é confirmar se entenderam.
Exemplo:
Treinador: “Temos 3 séries de 5 repetições de Hang Cleans e 3 séries de 30 segundos de Front Plank. Quantos Hang Cleans faremos?
Atletas: “3 séries de 5 repetições”
Treinador: “Quantas Front Planks?”
Atletas: “3 séries de 30 segundos”
Ao pedir confirmação consistentemente, você está treinando o atleta para ouvir e lembrar o que você diz e, ao fazer isso, você transforma a instrução dele em uma conversa entre você e o atleta, em vez de um ditado que ele simplesmente ignorará.
Não Fale Apenas, Fale e Demonstre!
“Diga-me e eu esqueço, ensine-me e talvez eu me lembre, envolva-me e eu aprenderei."
- Xunzi
Depois de dois parágrafos inteiros sobre instrução verbal, vou me contradizer e dizer por que o treinamento físico é muito mais valioso do que o treinamento verbal.
Em “Most Likely To Succeed” um livro fascinante que analisa as falhas e o futuro do nosso sistema educacional atual, os autores Tim Dintersmith e Tony Wagner usam a divertida analogia de ensinar crianças a andar de bicicleta para mostrar as armadilhas de como muitas vezes tentamos ensinar conceitos às crianças.
“Imagine se confiássemos em nossas escolas para ensinar as crianças a andarem de bicicleta. Os professores dariam palestras e indicariam leituras de livros didáticos sobre bicicletas. Os alunos ficariam acordados até tarde da noite memorizando os nomes dos vários componentes de uma bicicleta. Eles receberiam notas baixas nos testes - e perderiam a autoconfiança - por cometerem erros ortográficos. Alguns alunos se destacariam; outros teriam dificuldades. Ninguém jamais andaria de bicicleta…
O resultado líquido destas medidas políticas esclarecidas?
Bem, para começar, as crianças acabariam odiando todos os aspectos de andar de bicicleta. Os professores ficariam inseguros de ir trabalhar e os nossos melhores abandonariam a profissão. A alegria de andar de bicicleta se perderia na rotina escolar…
Felizmente, não dependemos das escolas para ensinar às crianças a andar de bicicleta. As crianças aprendem fazendo. Elas lutam para dominar a técnica. Elas falham, caem e se levantam. Elas perseveram até alcançarem competência e, eventualmente, dominam a ação.”
Não podemos esperar que as crianças aprendam habilidades físicas simplesmente por descrição verbal, nem podemos esperar que tenham uma capacidade de atenção maior do que em um vídeo do TikTok.
Já vi inúmeros treinadores perderem o fôlego na frente de crianças enquanto seus olhos reviravam e seus pensamentos vagavam para outro lugar.
A sinalização verbal é útil, mas é principalmente útil como explicação secundária durante a demonstração de um movimento, ou ainda mais como feedback enquanto o atleta está executando um movimento.
Centralize sua instrução em grandes demonstrações. Isso permitirá que você ensine vários atletas ao mesmo tempo de maneira mais eficaz e economize tempo e frustração no processo de treinamento.
Reúna seus atletas e faça ótimas demonstrações com breves explicações verbais. Utilize o método “Certo-Errado-Certo” de John Wooden para instrução.
Dê a eles uma ótima demonstração (e diga por que é isso que queremos)
Dê a eles uma demonstração ruim (o que não queremos)
Dê a eles outra ótima demonstração (e diga novamente o que você deseja ver)
Isso não deve demorar mais que um minuto. A partir daí, deixe seus atletas experimentarem o movimento enquanto você fornece feedback e ajustes conforme necessário.
Mantenha-se em Movimento (Você e Eles)
No início da minha carreira na MBSC aprendi a permanecer em movimento. A então diretora de estágio, Nicole Rodriguez, foi incansável em nos manter em movimento e ensinando, e nunca queríamos ser pegos encostados, sentados ou sonhando acordados no trabalho.
Hoje ainda sinto um leve desconforto quando fico parado, na verdade, é assim que você deve se sentir ao treinar um grupo.
Como treinador, você deve estar constantemente em movimento, de um lado para o outro na sala de treinos, fazendo correções, demonstrações e acompanhando os atletas.
Costumamos dizer aos nossos treinadores que, depois de um dia de treinamento em grupos, você provavelmente deverá estar um pouco dolorido e cansado. A realidade é que quando você treina de 8 a 10 atletas ao mesmo tempo, sempre há algo para corrigir.
Posturas para corrigir, elogios a fazer, exercícios para progredir e regredir. Não há muito tempo para ficar parado, e quando você observa, percebe que provavelmente deixou algo para trás.
O movimento constante também é importante para o atleta. Com nossos jovens atletas, devemos procurar criar um leve senso de urgência na academia, a fim de garantir que o grupo gire dentro do prazo.
Use pares e tri-sets em sua programação para ser mais eficiente com seu tempo.
Jovens atletas que não têm nada para fazer tendem a brincar, mantenha-os constantemente em atividade auxiliando uns aos outros, trabalhando o core e a mobilidade entre seus levantamentos maiores, e limite a quantidade de tempo sem atividade efetiva.
Isso não significa que devemos executar circuitos metabólicos sem descanso; o descanso é importante, mas mantenha um senso de urgência dentro do seu grupo para garantir que você consiga cumprir o programa dentro de 60 minutos.
Ensine
“A principal função do líder é tornar-se obsoleto.”
— Laozi
Uma das maneiras mais fáceis de garantir que seus grupos funcionem bem é criar mais treinadores dentro do grupo. Grandes treinadores criam líderes dentro de suas próprias fileiras.
No primeiro dia, ensine seus atletas a ler e preencher corretamente suas planilhas de treino. Se eles conseguirem entender facilmente e preencher suas fichas de maneira adequada, isso é uma coisa a menos com que você precisa se preocupar como treinador.
Ensine seus atletas a se posicionarem e ajudarem uns aos outros corretamente no Bench Press. Não é fácil treinar 10 crianças quando você está preso dentro do rack segurando a barra para todos eles. Coloque-os em grupos e torne-os responsáveis uns pelos outros, o que também terá um impacto positivo nas relações intergrupais.
Se você fizer um ótimo trabalho no desenvolvimento de seus atletas, eles muitas vezes poderão se tornar treinadores secundários que podem ajudá-lo a trazer novos atletas e alunos ao longo do processo.
Use atletas mais velhos e experientes para ajudar na demonstração e peça-lhes que ajudem os atletas mais jovens, se necessário. Isto não só capacita o atleta modelo, mas também fornece inspiração e motivação para aqueles do grupo que estão observando.
Nada me traz mais alegria como treinador do que ver meus próprios atletas treinando e prestando assistência uns aos outros, isso não apenas torna meu trabalho mais fácil, mas também é um sinal de um trabalho bem executado.
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