Burpees
- Sidiclei Souza
- 1 de fev.
- 4 min de leitura
Por Sidiclei Souza

Como você seleciona os exercícios que compõem a programação dos seus clientes? Você pensa na qualidade dos movimentos, na habilidade de execução dos exercícios dos seus clientes, nas dificuldades que porventura eles venham a apresentar no decorrer do treino? Ou simplesmente escolhe aqueles que você mais gosta? Aqueles que estão bombando nas academias renomadas, ou que estão sendo demonstrados por “blogueirinhos” e artistas em ascensão?
Nossa responsabilidade é muito maior que apenas fazer as pessoas suarem, ficarem cansadas, ou mesmo extenuadas. Lidamos na maior parte das vezes com pais, mães, filhos, patrões, empregados, ou seja, pessoas normais, que assim como os atletas, precisam estar saudáveis e em condições de tocarem suas vidas profissionais, pessoais e financeiras. Ninguém quer (nem pode) ficar pegando atestados médicos por ter dado “aquele gás a mais” na academia.
Tomemos o burpee como exemplo - sim, mais uma vez o burpee. Mesmo os treinadores que apoiam a realização deste movimento, são enfáticos ao alertar quanto a sua complexidade. Carl Paoli, Treinador de Ginástica, muito conhecido entre os praticantes de crossfit (sei que é apenas uma marca, mas vou tratar como modalidade para facilitar o entendimento) destaca que “é engraçado como um simples movimento (que eu uso para procurar algo no chão, às vezes) contém tanta informação valiosa”. Ele dedicou 31 páginas do seu livro “Free+Style - maximize sport and life performance with four basic movements” para falar do burpee e suas gradações e variações, ou seja, não se trata apenas de simplesmente colocar a barriga no chão, levantar e pular.
O Dr. Kelly Starrett, fundador do mobilitywod.com, e autor de vários livros, inclusive do best seller “Becoming a Supple Leopard”, também já discorreu sobre o burpee, e apesar e utilizá-lo, tem sérias advertências para quem é adepto do movimento. De acordo com ele “como o burpee combina tantos movimentos em um, em ação coordenada, milhares de falhas podem ocorrer. Por exemplo, as pessoas irão arredondar as costas ao levar as mãos ao chão, depois hiperextendê-las ao “arremessar” os pés para trás, “esmagar” os joelhos ao retornar os pés para frente e hiperextender as costas novamente ao saltar. Isso é como combinar todos os erros possíveis do deadlift, da push-up, do squat e dos saltos em um só movimento. É um desastre”.
Por outro lado, existem treinadores que parecem nem gostar de ouvir a palavra burpee, um exemplo é o treinador das estrelas da Califórnia, Ben Bruno. Ele elenca uma série de motivos para que você nem pense em fazer esse movimento:
“Exercício de alto impacto que coloca os pulsos, ombros, joelhos e coluna lombar sob estresse. Você pode atingir efeito similar de maneiras mais seguras, então o risco não vale a pena.
É um exercício avançado mascarado de treino para iniciantes. A maioria da pessoas não possuem os requisitos de força e mobilidade para realizá-lo de maneira apropriada, mas são deixadas sozinhas para fazerem altas repetições, que é a maneira como se tem programado seus treinos de condicionamento metabólico. O cansaço exacerba os erros posturais.
Altas repetições + técnica pobre = Receita para lesões.
Eles sempre ocorrem nos treinos em grupos e “bootcamps”, mas as pessoas não fazem direito, o que os torna uma péssima escolha. Mostre-me um vídeo no qual um grupo de clientes não atletas fazem burpees corretamente. Eu espero.
Atletas condicionados e clientes avançados com boa mobilidade provavelmente podem progredir fazendo esse exercício, mas você já viu algum preparador físico profissional de sucesso prescrevendo burpees? Eu também não. O sucesso deixa pistas”.
Além de nos apresentar motivos para a não introdução do burpee em qualquer programa de treinos, Ben Bruno ainda apresenta alternativas, que em seu ponto de vista, podem satisfazer aqueles que se regozijam com os treinos de alta intensidade (mas sem exposição a tanto risco):
“Quebre o movimento nas partes que o constituem, então, faça push-ups e squats separadamente, em circuito. Ou mesmo, squat jumps, mas em poucas repetições, menos de 10 por série. Altas repetições de pliométricos são uma má ideia.
Quase todas as máquinas para treino de “cardio”: bicicletas, ski ergométrico, elíptico, simulador de escalada, remo, sleds, etc. Sprints também.
Literalmente qualquer coisa fora burpees”.
Fazendo coro com Ben, está Michael Boyle - que dispensa apresentações - porém sendo um pouco mais incisivo. Coach Mike diz: “sempre que vejo alguém fazendo burpees eu me pergunto “porque?”. Você não se faz essa pergunta? Eu sim. Impacto nos pulsos, nos ombros, flexão lombar. Um milhão de oportunidades para erros mecânicos, e com que propósito? Porque é difícil? Isso é positivo?”. Ele finaliza afirmando que o burpee “é o exercício mais idiota do mundo”.
Bom, com certeza existem aqueles que morrem de amores pelo burpee e que gostariam de ter seus pontos de vista apreciados, mas como pudemos ver com as opiniões de Carl Paoli e Kelly Starrett, nem entre o treinadores de crossfit (ao menos os qualificados) o burpee é uma unanimidade. E considerando o propósito do programa de treinos que você está montando e os objetivos dos seus clientes, somente você poderá fazer esse balanço entre os riscos e benefícios de suas escolhas.
“Você pode fazer 10.000 burpees melhor que eu, mas até que o burpee se torne uma prova Olímpica, ninguém se importa”.
Dan John
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